Eventos do Instituto Federal do Espírito Santo, 7ª Semana da Matemática do Ifes

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O Jogo do Milho Queimado como metodologia no ensino de matemática na escola indígena

Laira Lamburghini Ribeiro, Cláudia Araujo Lorenzoni, Lígia Arantes Sad

Última alteração: 2018-05-17

Resumo


Este trabalho é um relato de experiência sobre uma oficina realizada com professores tupinikim e guarani no município de Aracruz-ES no ano de 2017, em que se buscou abordar ideias matemáticas a partir de saberes indígenas. O texto tem por objetivo explicitar a importância de elementos culturais na educação matemática no contexto indígena, em específico o jogo, que é carregado de conhecimentos e saberes do povo, tentando assim, integrar as formas tradicionais desses povos de produzir conhecimento e as práticas educacionais formais, como sugere D’Ambrósio (1994). A oficina foi promovida pelo Programa Ação Saberes Indígenas na Escola, do Ministério da Educação, em parceria com o curso de Licenciatura em Matemática do Instituto Federal de Educação, Campus Vitória. Concordamos com D’Ambrósio (1994) sobre a importância do resgate de elementos culturais para a educação matemática indígena e o respeito às diferentes formas de produzir conhecimento e ainda com Octávio e Araújo (2015) quanto à importância da intencionalidade, do planejamento e da consciência do valor pedagógico, para que o jogo não fique perdido somente no lúdico e sem um objetivo claro e conciso do que se quer abordar através dele. Nesta oficina, nos propusemos a explorar um jogo tupinikim, que denominamos o Jogo do Milho Queimado (MAGALHÃES, 2007), e discutir, juntamente com os professores presentes, as possibilidades e potencialidades deste jogo como metodologia de ensino. O jogo consiste no lançamento, por dois ou mais participantes, de seis grãos de milho queimados em uma face com um graveto quente, em que ganha quem tiver mais faces queimadas para cima. Em diferentes momentos do jogo procuramos, por meio de discussões, percorrer os campos matemáticos – Números e Operações, Álgebra, Espaço e Forma, Grandezas e Medidas, e Tratamento da Informação – e lançando mão de alguns exemplos, instigar os professores a elaborarem novas propostas e indagarem sobre como isso aconteceria em sua realidade de aula. Separamos os professores em três grupos, professores de 1º ao 3º ano, professores de 4º ao 5º ano, e professores de 6º ao 9º ano, visto que as turmas nas aldeias são multisseriadas. Neste artigo relatamos sobre as discussões realizadas juntamente com os professores de 1º ao 3º ano. Durante a oficina, o primeiro momento foi para jogar com as regras originais propostas, para conhecer o jogo. Num segundo momento os professores começaram a mudar regras, criar ou adaptar para sua realidade. Por exemplo, as regras originais não eram suficientes para tratar de empates com muitas pessoas, ou o caso de grãos de milho que ficavam parcialmente virados, provocando indecisão quanto à face queimada estar visível. Por último discutimos alguns exemplos de problemas envolvendo o jogo e sobre como abordar matemática por meio dele. Toda essa experiência conversou com o que defendemos, pois além de explorar um elemento cultural também possibilitou extrapolar o esperado dentro do que planejamos para uma aula de matemática.