O desafio colocado por Gelsa Knijnik (2003) de pensar a matemática no campo político está posto também para a Educação Infantil e provoca os cursos de formação de professores para este segmento, a discutir e propor práticas de uma matemática em conexão com o mundo social. Compartilho uma experiência realizada com seis diferentes turmas de um curso de Pedagogia, como parte das atividades da disciplina de Metodologia de Matemática. O objetivo é desenvolver uma prática, que explore as possibilidades do caráter interdisciplinar peculiar à Educação Infantil, articulando saberes tradicionalmente do campo da matemática com saberes da linguagem, da arte, da ética, das culturas e da inclusão social, e que contribua com os processos de imaginação e aprendizagem da criança, em sua formação integral. Atividades sobre figuras e formas propostas por Smole, Diniz e Cândido (2014) para crianças de 0 a 6 anos são adaptadas pelos estudantes e utilizadas na produção de livros infantis que tratam de temáticas do multiculturalismo e da inclusão social. Os livros, sem textos, devem trazer uma narrativa imagética composta através de cinco materiais utilizados na Educação Infantil: geoplano, tangram, dobradura, quebra-cabeça geométrico e mandalas. Essas narrativas tratam de temáticas multiculturais, problematizando em linguagem infantil questões da inclusão social. São narrativas que permitem a professores e crianças criarem e recriarem suas histórias ao buscar ler e significar as imagens, figuras, formas e contextos das obras. A atividade culmina com crianças na Educação Infantil, explorando os cinco materiais e suas possibilidades, as narrativas e suas problemáticas, ao mesmo tempo que percebem formas, lados, vértices e medidas, elaboram seus próprios livros e histórias. A matemática inserida na arte, na literatura, permite à criança atribuir sentido e imprimir esforço para organização espacial e de formas, desenvolver a linguagem, ler e compreender além de figuras e formas as conexões éticas e estéticas do multiculturalismo e sua complexidade política, dentro do universo de possibilidades da infância em seus contextos. Há um caráter interdisciplinar peculiar da Educação Infantil que pode ser preservado nos demais segmentos da educação, e que contribui na conexão da matemática com o campo político e na construção de significados nas relações sociais. As ações vão impondo leituras mais complexas de desenhos sociais à medida que as crianças se desenvolvem e aproximam de sua maturidade política.