O presente relato tem como temática a formação continuada de professores de anos iniciais em grupos de estudos de educação matemática, onde são discutidos e compartilhados conteúdos, conceitos matemáticos e possíveis ações pedagógicas, que incentivam reflexões sobre a prática docente individual e coletiva, por meio da socialização de ações de ensino realizadas por participantes do grupo. As discussões exploradas nesse relato surgem de questões apresentadas pelas professoras dos anos iniciais a partir de demandas e desafios que enfrentam ao ensinarem frações. As análises são tecidas a partir de contribuições de Shulman (1986, 2005) no que se refere aos conhecimentos necessários ao professor em exercício e em Campos, Magina e Nunes (2006), que investigam os conceitos que professores dos anos iniciais têm sobre fração. O objetivo concentra-se na compreensão, por parte dos professores participantes, em especial aqueles que lecionam para os anos iniciais, do conceito de fração, suas características e representações. Foram realizados dois momentos de discussão, o primeiro ocorreu de forma dialogada no qual as professoras eram questionadas a expressar o que entendiam como fração e a identificarem frações menores e maiores do que a unidade. Os recursos utilizados foram pincel, quadro branco, papel utilizado para dobraduras e representação pictórica, com intuito de visualizar frações como 3/4, 3/2 entre outras. O segundo momento surgiu a partir da intenção das professoras em ensinar para seus alunos, sem o uso do algoritmo, a operação 1/2 dividido por 1/3. O desejo era utilizar a representação pictórica por ser, na opinião das professoras, a estratégia mais adequada à compreensão de seus alunos nessa etapa de ensino, antes de recorrer a formalização da operação. Durante as discussões as professoras apresentam como correta uma representação que na verdade resolvia a operação 1/2 dividido por 3. Para resolver a questão problematizada, os professores de matemática, presentes na reunião, realizaram intervenções explicativas para auxiliar a compreensão das docentes. É importante ressaltar que todos os envolvidos, incluindo os professores de matemática, embora tenham demonstrado curiosidade e interesse, sentiram dificuldade em resolver a questão. Pode-se empreender que a dificuldade tenha surgido devido ao uso recorrente do algoritmo que os faziam vislumbrar primeiro a resposta (3/2) e vincular o desenho feito a resposta que se desejava encontrar. O desafio então se revelou em despir o olhar das regras estabelecidas e concentrar-se na operação a ser realizada e representá-la pictoricamente. Ao final das discussões apresenta-se no quadro branco a representação pictórica da operação envolvida e os professores evidenciam compreender a relação existente entre as partes do todo apresentadas por meio do questionamento “quanto cabe?”, e a reconhecer a diferença entre a solução aceita por elas como correta e a que foi proposta ao final.