Nas últimas décadas do século XX a Educação Matemática brasileira passou a se constituir em relevante campo de pesquisa congregando professores de matemática em todos os níveis de ensino, numa perspectiva de ampliação da concepção de formação humana, pela superação da visão fragmentária e descontextualizada do conhecimento matemático. Conforme salienta o pesquisador brasileiro Ubiratan D’Ambrósio, a concepção predominante nas práticas pedagógicas ao longo do século XX apoiou-se numa visão de matemática caracterizada unicamente pelo formalismo dessa ciência, levando a pouca aplicabilidade e quase nenhuma relação com a dimensão histórico-cultural desse conhecimento milenar e que se acha presente em todos os povos e culturas. Tal fato contribuiu para tornar o conhecimento matemático em fator de exclusão educacional, aspecto prejudicial ao desenvolvimento humano, visto que a ciência matemática representa relevante papel na sociedade contemporânea, além de tornar a sala de aula de matemática como algo enfadonho e desmotivador.
Para mudar esse quadro é preciso que pensemos em práticas pedagógicas diferenciadas e as pesquisas em educação têm também o seu papel e sua contribuição a dar. Elas devem apontar para a direção da valorização do ser e, acima de tudo, serem colocadas dentro de certos princípios éticos. Um desses princípios é o de que as investigações em educação matemática devem produzir benefícios para maior número de estudantes, e outro é que as investigações não devem se justificar pelo mero prazer da investigação. A generalização do conhecimento tem de servir para fins éticos e morais. É necessário que se suponha, por meio da pesquisa, uma melhor educação para todas as pessoas que decidam entrar em uma sala de aula. A investigação é um espaço de diálogo comum para buscar formas coletivas de transformar a educação e superar as barreiras (elitistas) que tradicionalmente se interpõem à educação matemática. É necessário, portanto, nos comprometermos a realizar investigações sem pretensão de consolidar a visão elitista que alguns profissionais têm ao criar níveis para, por meio deles, os estudantes alcançarem conhecimentos elevados em Matemática. Deve-se, portanto, buscar formas para que todas as pessoas tenham as mesmas oportunidades de acesso aos conhecimentos matemáticos, ainda que o façam a partir de pontos de vista ou momentos diferentes.
Diante disso, é importante que se faça o seguinte questionamento: que práticas de ensino de matemática podem colaborar para o processo de aprendizagem? A Matemática precisa ser encarada como uma possibilidade de se refletir criticamente. E é nesse sentido que propomos para o X Encontro Capixaba de Educação Matemática o tema “Metodologias para o ensino de Matemática na Educação Básica: debates para compreender e intervir”. Esse encontro, o décimo já realizado em nosso estado desde o ano de 1988, tem parceria entre o Instituto Federal do Espírito Santo, Universidade Federal do Espírito Santo e Sociedade Brasileira de Educação Matemática, regional ES. Como resultados, se pretende ampliar a aproximação entre pesquisa e prática docente, entre estudantes e professores e entre instituições de ensino e pesquisa, além de fomentar a formação de pesquisadores em educação matemática em nosso estado.